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Introdução: O que é a leucemia mieloide?

A leucemia mieloide, um termo coletivo para várias doenças malignas do sistema hematopoiético, manifesta-se através de uma proliferação descontrolada de células mielóides degeneradas na medula óssea. Trata-se essencialmente de um grupo de cancros que têm origem nas células precursoras mielóides da medula óssea, a partir das quais se desenvolvem normalmente os granulócitos, os monócitos, os eritrócitos e os trombócitos. Estas células degeneradas, também conhecidas como blastos, deslocam a hematopoiese saudável, resultando numa falta de células sanguíneas funcionais.

Para classificar a leucemia mieloide, é importante distingui-la de outras formas de leucemia. Ao contrário da leucemia linfocítica, que afecta as células linfáticas, a leucemia mieloide afecta as células mielóides. Na leucemia mieloide, distingue-se principalmente entre leucemia mieloide aguda (LMA) e leucemia mieloide crónica (LMC). A LMA caracteriza-se por uma progressão rápida da doença e por um elevado número de blastos imaturos no sangue e na medula óssea, enquanto a LMC se caracteriza por uma progressão mais lenta e pela presença de células mais maduras, mas ainda degeneradas. Cada uma destas formas principais compreende, por sua vez, vários subtipos que diferem nas suas caraterísticas genéticas e moleculares, bem como na sua evolução clínica. Esta diversidade torna essencial um diagnóstico preciso e um planeamento terapêutico individualizado.

Causas e factores de risco

As causas e os factores de risco da leucemia mieloide são variados e complexos, sendo que tanto os factores genéticos como os ambientais desempenham um papel importante. Uma predisposição genética pode aumentar o risco, embora a leucemia mieloide raramente seja herdada diretamente. Certas síndromes genéticas, como a síndrome de Down ou a anemia de Fanconi, estão associadas a um risco acrescido de desenvolver leucemia mieloide.

As influências ambientais, em particular a exposição ao benzeno, um solvente utilizado na indústria química, e às radiações ionizantes (por exemplo, após acidentes nucleares ou durante a radioterapia), são consideradas factores de risco comprovados. Além disso, o tratamento prévio com quimioterapia ou radioterapia, nomeadamente com determinados medicamentos citostáticos, como os alquilantes ou os inibidores da topoisomerase II, pode aumentar o risco de desenvolvimento de uma leucemia mieloide secundária, que se manifesta anos após o cancro original.

A idade também desempenha um papel importante, uma vez que o risco de leucemia mieloide aumenta com a idade. As pessoas mais velhas têm uma incidência mais elevada, possivelmente devido a uma acumulação de alterações genéticas relacionadas com a idade e a uma função imunitária enfraquecida que favorecem o desenvolvimento de células leucémicas. É importante salientar que, em muitos casos, não é possível identificar uma causa clara e que o desenvolvimento da leucemia mieloide se deve provavelmente a uma combinação de factores.

Sintomas da leucemia mieloide

A leucemia mieloide manifesta-se através de um amplo espetro de sintomas, cuja gravidade e combinação podem variar muito. Os sintomas comuns que ocorrem frequentemente incluem fadiga e fraqueza acentuadas, que são muitas vezes consideradas debilitantes e têm um impacto significativo na qualidade de vida quotidiana. A perda de peso não intencional, que não se deve a alterações na dieta ou ao aumento da atividade física, também pode ser um sinal de alerta.

Estes sintomas inespecíficos resultam de uma diminuição da hematopoiese na medula óssea e da consequente diminuição da função dos órgãos. A insuficiência da medula óssea conduz a uma série de outros sintomas: a anemia, que se caracteriza por uma falta de glóbulos vermelhos, manifesta-se por palidez, falta de ar e tonturas. A falta de glóbulos brancos funcionais (leucopenia) provoca uma maior suscetibilidade a infecções, o que enfraquece o sistema imunitário e torna o organismo mais suscetível a infecções bacterianas, virais e fúngicas.

A tendência hemorrágica causada pela falta de trombócitos (trombocitopenia) manifesta-se sob a forma de nódoas negras espontâneas (hematomas), hemorragias nasais, sangramento das gengivas ou petéquias (hemorragias cutâneas punctiformes). Dependendo da forma específica da leucemia mieloide, podem também ocorrer sintomas específicos. Por exemplo, a leucemia promielocítica aguda (LPA) pode levar a uma perturbação grave da coagulação (coagulopatia intravascular disseminada, CID), que pode causar hemorragias potencialmente fatais. Noutras formas de LMA, podem ser observadas alterações cutâneas, dores ósseas ou um aumento do fígado e do baço (hepatoesplenomegalia). A LMC, por outro lado, pode ser assintomática na fase inicial ou manifestar-se através de sintomas inespecíficos, como suores noturnos, dores abdominais ou uma sensação de pressão no abdómen superior esquerdo devido ao aumento do baço.

Procedimento de diagnóstico

O diagnóstico da leucemia mieloide baseia-se num procedimento em várias fases que começa com uma história clínica detalhada e um exame físico minucioso. O médico regista a história clínica do doente, incluindo possíveis factores de risco e doenças anteriores, e procura sinais clínicos que possam indicar leucemia, como palidez, petéquias ou um baço aumentado.

Um passo decisivo é a contagem sanguínea, que fornece informações sobre o número de diferentes células sanguíneas e a proporção de células imaturas, os chamados blastos. Um aumento da contagem de leucócitos ou uma elevada proporção de blastos no sangue periférico podem indicar leucemia, mas nem sempre são específicos. O diagnóstico definitivo é geralmente efectuado através de uma punção da medula óssea e de uma biopsia. A medula óssea é retirada e analisada citológica, citogenética e molecularmente.

A citologia avalia a morfologia das células, a citogenética analisa os cromossomas para detetar alterações e a genética molecular procura mutações genéticas específicas que possam ser caraterísticas da forma particular de leucemia mieloide. Estas análises pormenorizadas permitem uma classificação precisa da leucemia e são decisivas para a escolha da terapêutica adequada. Para avaliar a extensão da doença e excluir outras causas possíveis dos sintomas, podem ser utilizadas técnicas de imagiologia complementares, como a tomografia computorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM), sobretudo se houver suspeita de infiltração de células leucémicas em órgãos.

Tratamento da leucemia mieloide aguda (LMA)

O tratamento da leucemia mieloide aguda (LMA) tem como objetivo eliminar os blastos malignos na medula óssea e alcançar a remissão. O tratamento divide-se em várias fases. A primeira fase é a terapia de indução, cujo principal objetivo é conseguir uma remissão completa. Esta fase envolve normalmente uma quimioterapia intensiva com medicamentos citostáticos, como a citarabina e as antraciclinas, que tem como objetivo matar as células leucémicas e restabelecer a hematopoiese normal.

Uma vez alcançada a remissão, segue-se a terapia de consolidação com o objetivo de eliminar quaisquer células leucémicas remanescentes e evitar uma recaída. Esta fase pode incluir mais ciclos de quimioterapia ou, em certos casos, um transplante alogénico de células estaminais, em que a medula óssea do doente é substituída pela de um dador saudável.

Juntamente com a quimioterapia, é essencial uma terapia de suporte abrangente para minimizar as complicações. Esta inclui transfusões de produtos sanguíneos para tratar a anemia e a trombocitopenia, a administração de antibióticos e antimicóticos para combater as infecções causadas pela imunossupressão e a monitorização cuidadosa da função dos órgãos.

Além disso, estão constantemente a ser investigadas e aplicadas novas abordagens terapêuticas, incluindo terapias direcionadas que atacam alterações moleculares específicas nas células leucémicas, bem como imunoterapias que activam o sistema imunitário do doente para reconhecer e destruir as células cancerígenas. Estas abordagens modernas oferecem a esperança de melhorar os resultados do tratamento, especialmente para os doentes com determinadas mutações genéticas ou recidivas.

Tratamento da leucemia mieloide crónica (LMC)

O tratamento da leucemia mieloide crónica (LMC) sofreu uma mudança revolucionária nas últimas duas décadas com a introdução dos inibidores da tirosina quinase (TKIs). Estes fármacos, como o imatinib, o dasatinib, o nilotinib, o bosutinib e o ponatinib, têm como alvo específico a proteína de fusão BCR-ABL, que é produzida pela translocação entre os cromossomas 9 e 22 e provoca a proliferação descontrolada das células mieloides.

Os TKIs provaram ser extremamente eficazes na indução de uma remissão hematológica e citogenética completa na maioria dos doentes. O sucesso da terapêutica é monitorizado de perto através de hemogramas regulares, citogenética (exame dos cromossomas) e, cada vez mais, também através de testes moleculares, em particular a PCR quantitativa (reação em cadeia da polimerase) para determinar o nível de transcrição BCR-ABL.

O objetivo do tratamento é conseguir uma remissão molecular profunda, que está associada a uma redução significativa do risco de progressão da doença. Embora os TKIs sejam geralmente bem tolerados, podem ocorrer efeitos secundários, que vão desde sintomas ligeiros, como náuseas, erupções cutâneas ou cãibras musculares, até complicações mais graves, como derrames pleurais ou eventos cardiovasculares.

A gestão destes efeitos secundários é uma parte importante do tratamento da LMC. O transplante alogénico de células estaminais, em que células estaminais saudáveis de um dador substituem a medula óssea doente do doente, é agora uma opção de tratamento alternativa que é considerada principalmente em casos de resistência ou intolerância aos TKI, em LMC em fase avançada ou na presença de factores de risco genéticos específicos.

Viver com leucemia mieloide

Viver com leucemia mieloide coloca as pessoas afectadas e as suas famílias perante imensos desafios que vão muito para além do tratamento puramente médico. O diagnóstico e a terapia, muitas vezes intensiva, podem levar a um stress psicológico considerável, razão pela qual o apoio psicossocial de psicólogos, assistentes sociais ou centros de aconselhamento especializados é de importância fundamental.

Esta ajuda pode ser decisiva para enfrentar a doença, lidar com a ansiedade e a depressão e melhorar a qualidade de vida. Um sintoma comum e angustiante é a fadiga, um cansaço extremo que muitas vezes não melhora com o repouso. As estratégias para lidar com a fadiga, como a gestão da energia, a definição de prioridades nas actividades e as técnicas de relaxamento, podem ajudar a enfrentar melhor a vida quotidiana.

A alimentação também desempenha um papel importante: uma dieta equilibrada e nutritiva, com proteínas e vitaminas suficientes, pode reforçar o sistema imunitário e apoiar a terapia. O exercício físico e o desporto, adaptados ao estado de saúde de cada um, também podem ajudar a melhorar o bem-estar e a reduzir a fadiga.

Os exames regulares de acompanhamento são essenciais para reconhecer uma recaída numa fase inicial e, se necessário, ajustar a terapia. A socialização com outros doentes em grupos de autoajuda oferece a oportunidade de partilhar experiências, de se apoiarem mutuamente e de adquirirem novas perspectivas. Estes grupos podem proporcionar um sentido de comunidade e ajudar-te a lidar melhor com os desafios da doença.

Investigação e perspectivas

A investigação no domínio da leucemia mieloide é dinâmica e promissora, com numerosos projectos destinados a aprofundar a nossa compreensão dos mecanismos da doença e a desenvolver abordagens terapêuticas inovadoras. Os actuais focos de investigação incluem a identificação de novas mutações genéticas que contribuem para o desenvolvimento e progressão da leucemia mieloide e a investigação do papel do sistema imunitário no controlo das células leucémicas.

Nesta base, estão a ser desenvolvidas novas terapias orientadas que visam especificamente as propriedades moleculares das células leucémicas, por exemplo, inibidores de mutações como a FLT3 ou a IDH. Simultaneamente, estão a ser investigadas imunoterapias, como as terapias com células CAR-T e os inibidores dos pontos de controlo, para ativar o próprio sistema imunitário do organismo no combate à leucemia.

Um aspeto central é a medicina personalizada, em que as decisões de tratamento se baseiam na constituição genética individual e nas caraterísticas específicas da leucemia do doente. Isto permite um tratamento mais preciso e eficaz que minimiza o risco de efeitos secundários.

Por último, a deteção precoce e a prevenção desempenham um papel importante, com estudos destinados a identificar os factores de risco e a desenvolver estratégias para reduzir o risco de leucemia. O progresso contínuo da investigação promete uma melhoria constante do prognóstico e da qualidade de vida dos doentes com leucemia mieloide.

Além disso, a utilização de nosódios de frequência para tratar e aliviar os sintomas da leucemia mieloide está a ser investigada na medicina alternativa. Os nosódios de frequência são preparações homeopáticas que se baseiam em frequências específicas e têm como objetivo apoiar os processos de cura do próprio corpo. Acredita-se que podem ajudar a reforçar o sistema imunitário e a promover o bem-estar dos doentes. Embora sejam necessários mais estudos para confirmar a sua eficácia e segurança, podem constituir uma opção terapêutica complementar no tratamento holístico da leucemia mieloide.